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Entrevista: Josefine Aló Martins, psicóloga

  • Foto do escritor: Diário de Adoção
    Diário de Adoção
  • 19 de dez. de 2017
  • 4 min de leitura

Atualizado: 25 de jan. de 2018

Especialista em Saúde Pública, trabalha como psicóloga há mais de 30 anos, atendendo na cidade de São José dos Campos.



O Diário de Adoção, buscando entender um pouco como funciona a adoção, preparou uma entrevista com a psicóloga Josefine Aló Martins. Tratando de aspectos que vão desde o momento anterior à adoção, até a importância de contar para a criança sobre a adoção, a entrevista é imperdível. Você confere abaixo alguns dos pontos mais interessantes apontados pela psicóloga.


Diário de Adoção (DA): Como saber se devo adotar um filho? Como saber se estou preparado?

Josefine: A adoção vai muito além de um "dever" social, deve principalmente ser fruto de um desejo pessoal da experiencia da maternidade/paternidade ou de uma ligação afetiva significativa com alguma criança com a qual já tenha contato. A chegada de uma criança em nossa vida traz muitas mudanças em vários aspectos: sociais, psicológicos, materiais, financeiros, etc. A principal condição, creio ser a disponibilidade interna, emocional e afetiva para gerar aquele filho mental e emocionalmente, o que possibilita criar a identidade paterna e materna em relação à criança. Muitas mulheres engravidam sem assim planejar ou desejar de forma mais estruturada, mas durante os nove meses da gestação a criança também passa a ser concebida sob o ponto de vista emocional e psicológico, e essa "gestação" no caso da adoção, ocorre desde o momento da tomada de decisão pela adoção até a chegada da criança.


DA: Quais as principais inseguranças apresentadas pelos futuros pais?

Josefine: Medo de que os pais biológicos "voltem atrás" da decisão de doar a criança e assim perdê-la. Incertezas quanto aos problemas de saúde física e mental que a criança possa vir a apresentar, quando se desconhece totalmente a origem da criança. Medo de não serem amados pela criança, medo de errarem na educação, como se tornassem mais responsáveis ainda por não ser filho natural. Medo de que, ao crescer, a criança queira procurar os pais biológicos e assim perder seu amor...


DA: É possível desenvolver alguma doença ou transtorno semelhante à depressão pós-parto em casos de adoção?

Josefine: O que pode acontecer com as relações do casal, ou na família de um modo geral - e isso independe se a criança é adotiva ou não - é que a chegada de um novo ser altera as relações anteriormente estabelecidas, pois é uma outra pessoa que está entrando com complexo conjunto de necessidades. Por exemplo: naturalmente, a mãe foca toda sua atenção na criança, e isso faz com que deixe em segundo plano os próprios cuidados e a atenção ao companheiro ou ao outro filho. Isso pode gerar os sentimentos mais variados possíveis: sentimentos de rejeição, ciúmes, etc. A energia afetiva da mãe, estando focada na criança, desvia a energia libidinal, o que pode implicar num desinteresse sexual temporário, podendo gerar sentimentos de perda de amor e de espaço pelo pai. Esses são apenas exemplos de como a chegada de uma criança na vida de um casal é complexa. Se qualquer dos pais já tinha alguma vulnerabilidade em termos de saúde mental e psicológica, pode as vezes desencadear quadros reativos e cujo conteúdo pode estar relacionado à entrada daquela criança no universo relacional dessas pessoas. O surgimento de quadros depressivos é possível, mas não seria chamado depressão pós parto. Nesse caso, provavelmente houve falhas no processo de adoção, seja pela forma como aconteceu, pelo despreparo dos pais, pela ausência de apoio familiar, etc. Isso parece ser mais comum ocorrer com casais que não tiveram um acompanhamento ou preparo psicológico antes da adoção.

DA: De que forma um pai adotivo pode contar ao filho sobre sua adoção? Aliás, há necessidade de contar?

Josefine: Sim, há necessidade da criança saber desde pequena sobre sua adoção. Há inúmeras formas de ir contando à criança sobre tudo. Creio que a mais adequada é aquela em que a narrativa se faz de forma extremamente afetiva, positiva, alegre, que permita à criança construir uma visão positiva de si mesma e de sua vinda. Das experiencias enriquecedoras que trouxe à família, do sentimento de pertencimento e de legitimação de seus direitos e deveres junto ao núcleo familiar e toda a rede familiar ampliada. É importante salientar que ocultar sobre isso, sempre trará ansiedade aos pais pelo medo de um dia o filho "descobrir" através de outras pessoas, e a verdade é a unica condição através da qual a pessoa se constrói enquanto sujeito.


DA: Caso o filho queira conhecer os pais biológicos, como os pais adotivos devem se portar? E como os filhos podem abordar esse assunto com os pais adotivos?

Josefine: Quando os pais adotivos são bem resolvidos em relação ao processo adotivo, o interesse em conhecer os pais biológicos por parte do filho adotivo não trará insegurança ou angústia. Os pais estarão mais disponíveis para participar e acompanhar todo esse processo, assegurando ao filho a tranquilidade, segurança e conforto possíveis para que qualquer adversidade seja enfrentada com todo o apoio da família. Se a criança cresceu com a experiencia do dialogo aberto e participativo da família, não terá dificuldades em falar sobre isso com os pais.


DA: Quais são as principais inseguranças que casais homoafetivos encontram na hora de adotar?

Josefine: Creio ser a superação dos preconceitos sociais. Medo da criança também ser alvo desses mesmos preconceitos, dentro dos ambientes ao qual será inserida, trazendo-lhe mais sofrimento e isolamento social. Além, é claro, das mesmas questões dos casais heteroafetivos já citados.


DA: Ainda sobre adoção homoafetiva, existe algum prejuízo na vida de uma criança ser criada por dois homens, ou duas mulheres?

Josefine: O que prejudica o desenvolvimento de uma criança é a ausência de amor, de respeito, de valorização. É ser submetida à experiência da violência, seja física ou psicológica, à privação de qualquer especie. O amor, a proteção, o incentivo, a boa alimentação, os valores éticos e morais, independem de gênero e orientação sexual.


Por Thaís Fritoli - Diário de Adoção

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