Relato: Andréa Sassi, filha adotiva
- Diário de Adoção
- 25 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
"Você é como esses bebês, não nasceu da barriga da mamãe, nasceu do coração. Quando nasce do coração é porque a mamãe e o papai desejaram muito!"
O relato abaixo foi enviado por Andréa Sassi. O texto foi modificado para compreensão, porém segue fiel ao conteúdo disponibilizado. Nenhuma foto foi enviada, para preservar a anonimidade da família.

A adoção
Fui adotada no dia do meu nascimento. Tenho dois irmãos mais velhos, um 12 anos mais velho e o outro 9. Fiquei sabendo da minha adoção quando eu tinha 3 anos. Meus pais me levaram até o quarto deles e colocaram em cima da cama uma folha de jornal, na qual apareciam alguns bebês.
Eles então sentaram-se ao meu lado e eu fiquei em pé olhando aqueles bebês. Minha mãe me disse: "Você é como esses bebês, não nasceu da barriga da mamãe, nasceu do coração. Quando nasce do coração é porque a mamãe e o papai desejaram muito!"
O preconceito
Nunca mais perguntei nada. Quando fui para a pré-escola, comecei a sentir o preconceito, pois meus pais e irmãos são brancos, com olhos azuis e verdes.
Contei para a minha mãe que falavam que eu era diferente, então a minha mãe me disse pra contar que eu havia nascido em uma noite muito escura, não tinha luz e eu fiquei no forno assando um pouco mais. Eu tinha o maior orgulho de dizer isso.
Adoção e adolescência
Cresci com todos os dilemas e delícias da adolescência, nunca me senti diferente dos demais. Quando fiz 18 anos passava uma novela, acho que Laços de Família, na qual a personagem havia descoberto que tinha leucemia.
Na hora da cena clássica, (Nota do Diário: Aquela cena, com a Carolina Dieckmann raspando o cabelo ao som de Love by Grace, você pode conferir aqui, caso não esteja lembrando), minha mãe me disse que a hora que eu quisesse ir em busca da minha família biológica, ou precisasse, ela iria comigo. Me disse até o nome da minha mãe biológica, que era o pouco que ela sabia.
Na verdade, fui deixada pra adoção no Hospital, naquela época, 35 anos atrás, eram as freiras que lá trabalhavam e intermediavam as adoções e minha mãe era Cursilhista e Catequista e conhecia elas. A freira que estava presente no meu nascimento contou pra minha mãe que minha mãe biológica não quis me ver, não tinha roupas pra mim, nem quis saber se eu era menina ou menino.
A dúvida sobre a ancestralidade
Meus pais enfrentaram um processo pra me registrar, meu registro saiu um ano e pouco depois. Um dia precisei da minha certidão de nascimento e percebi que não havia nem município de nascimento. Então, quando a funcionária do cartório se distraiu, peguei o livro e vi que não havia absolutamente nem um dado na minha primeira certidão. Nem horário, local, nome dos pais, nada...
São vários os enigmas... Certa vez uma moça me procurou dizendo que podia ser minha irmã, a minha vizinha acredita que posso ser filha de uma empregada dela que deu o bebê, uma menina, e logo após meus pais surgiram comigo
Atualmente
Enfim, fiz psicanálise por um tempo e, foi só assim que consegui falar "Mãe biológica", antes disso eu dizia "A mulher que me teve". Aos 30 anos fui fazer terapia, nesse meio tempo engravidei e comecei a refletir e pensar nos motivos que levaram a minha mãe biológica a me doar.
Hoje penso que o ato dela foi um ato de amor, pois me deixou amparada no hospital, me possibilitou ter uma família que me deu amor, dedicação, condições emocionais e materiais de ter uma vida digna e confortável. Tem que ter muito amor para dar um filho. Peço a Deus que conforte o coração dela, porque a incerteza deve doer nela, se ela não sabe quem sou.
Já pensei em procurar minha família biológica, mas minhas duas tias que foram adotadas pela minha vó procuraram e tiveram experiências frustrantes, então tenho um pouco de receio. Se um dia eu tivesse que procurá-la por questões de saúde, eu iria sem pestanejar.
No meu coração, tenho um desejo enorme de adotar uma criança, talvez ainda eu convença meu marido de embarcar no meu sonho!
Andréa Sassi, para o Diário de Adoção.
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